Viajar sozinha: medos, desafios, dicas, recomendações e planejamento de viagem

por | Atualizado em 4/03/24 | Dicas de Viagem

Está pensando em viajar sozinha e quer saber como planejar sua viagem, lidar com medos e desafios antes e durante, além de ter exemplos de outras mulheres que fazem o mesmo? Então esse é o artigo perfeito para você!

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Na minha última viagem sozinha: vestindo milhares de roupas para pesar menos a mochila

Viajar sozinha: quando um desafio se torna possibilidade

Pode parecer estranho para uma mulher que tenha vindo de um contexto semelhante ao meu se visualizar viajando sozinha. Vinda de cidade pequena, com uma família extremamente marcada pelo sistema patriarcal, apesar de ter exemplos de mulheres fortíssimas, eu realmente não pensava que essa seria uma possibilidade e nem via motivo para isso.

Foi em Janeiro de 2020, em uma viagem com minha mãe e irmã que essa crença começou a mudar. Em um eco parque em Rio das Ostras, conheci uma estudante de artes cênicas que havia trancado a faculdade e feito um mochilão de 6 meses com o namorado até o Chile. Quando nos conhecemos, ela se organizava para começar o período letivo e dizia se sentir muito mais inspirada e animada depois da aventura.

Naquele momento, decidi que queria fazer algo parecido. Conversamos muito sobre sua experiência acompanhada e como a presença de um homem, para ela, foi um facilitador durante a viagem. Homens à respeitavam mais quando estava acompanhada, ela não se sentia vulnerável ao acampar em lugares aleatórios e definitivamente é bem mais reconfortante enfrentar um desafio quando se tem com quem dividir as angústias.

Apesar disso, ela disse que, se tivesse a oportunidade, faria tudo de novo sozinha – e me incentivou a fazer o mesmo.

Foi quando comecei a procurar exemplos de mulheres que viajam sozinhas para saber se era realmente possível e, para minha surpresa, descobri que 60% dos viajantes solo hoje são mulheres, segundo a plataforma de troca de trabalho voluntário, Worldpackers.

Esse foi o primeiro passo para que o sonho começasse a virar matéria e eu decidisse que sim, eu poderia e iria viajar sozinha. Mas afinal, por quê eu faria isso?

Afinal de contas, por quê viajar sozinha?

Quando já experienciamos e estamos acostumadas a viajar com as pessoas que amamos, nossos familiares e amigos, pode parecer estranho pensar em viajar só. Afinal, será que pode ser divertido e prazeroso mesmo sem ter com quem compartilhar?

Hoje, depois de algumas viagens, de muitos encontros e desencontros pela estrada e de voltar para a casa com um bichinho viajante colado no peito, posso te dizer que sim, é realmente muito divertido viajar sozinha. (Pelo menos para mim.)

E o principal motivo, no meu caso, é a liberdade e confiança que a viagem proporciona.

Mesmo quando viajamos com pessoas extremamente alinhadas com nossos gostos, vontades e necessidades, ou que respeitem muito a nossa individualidade, ainda assim somos levados a negociar tomadas de decisão, considerar os sentimentos e pensamentos do outro, abrir mão. E tudo isso é muito prazeroso quando é a proposta da viagem e nós estamos dispostos. Mas já pensou em não ter essas questões?

Viajar sozinha é escolher cada detalhe da viagem baseando-se somente em si mesma. É ouvir seu coração e fazer o que realmente o faz bater mais forte. Respeitar seus limites, não se forçar a nada pela alegria ou satisfação de ninguém além de si. Aprender a confiar nos seus instintos, no conhecimento que se tem, na própria capacidade de lidar com problemas ou tomar decisões que te mantenham segura e tranquila.

É a possibilidade de uma verdadeira imersão em autoconhecimento, aprendendo a ouvir o que diz seu corpo, mente e alma para guiar seus passos. E mais importante: é uma oportunidade de se fortalecer como mulher num mundo que limita tanto a nossa existência e formas de agir, pensar e sentir.

Medos e desafios antes da viagem

Para quem nunca viajou sozinha, e às vezes até para quem já viajou, os desafios começam bem antes de comprar a passagem, chegar no destino e viver a experiência.

O primeiro deles e mais comum, que eu já entrei um pouco por aqui, são nossas próprias crenças e limitações. Como mulheres, muitas vezes somos levadas a acreditar que o mundo é perigoso demais para nós, e não seríamos capazes de lidar com isso sozinhas. E não é à toa…

A falta de segurança

Segundo dados de uma pesquisa da Datafolha e do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), cerca de 18,6 milhões de mulheres sofreram algum tipo de violência no Brasil em 2022. Se o nosso próprio país nos trata dessa forma, como vamos nos sentir seguras para viajar sozinhas dentro ou fora dele?

Quando analisamos a pesquisa mais a fundo, vemos que em mais da metade dos casos (cerca de 53%) as agressões ocorreram em casa, enquanto 4,7% aconteceram no ambiente de trabalho e 17,6% na rua.

Para mim, esses dados mostram muito mais do que a vulnerabilidade a que estamos expostas todos os dias e em diferentes lugares. Eles também demonstram como a dinâmica em volta de nossos corpos é abusiva e aprisionadora. Imaginem só, o espaço considerado de maior violência para mulheres é sua própria casa!

Ou seja, é mais do que natural que sintamos medo. Mas é também muito necessário que compreendamos as raízes e a complexidade desse problema, e enfrentemos esse medo. Entender que não é sobre a nossa própria capacidade e valor, e também que não estamos seguras em lugar nenhum: nem viajando e muito menos paradas!

Precisamos nos cuidar e preservar em qualquer ambiente, sob quaisquer circunstâncias, mas não deixar com que a agressividade que nos tratam nos impeça de vivermos nossa vida.

Por isso, quando decidimos viajar sozinhas, acredito que o maior desafio seja entender isso. Buscar maneiras de transpor o medo e não se paralisar, mas fortalecer-se dentro das próprias habilidades e adquirir informações para construir a confiança necessária.

Uma dica!

A melhor maneira de fortalecer o sentimento de segurança dentro de você é saber exatamente do que você tem medo.

Entenda: o medo é seu amigo.

O medo é um sentimento completamente natural em nós, seres humanos, e em todos os outros seres vivos. Ele nos mostra exatamente o que pode dar errado e como você pode ser afetada, de acordo com as experiências que já tenha vivido.

Assim, para se sentir segura, eu recomendo que você anote todos os seus medos de uma forma bem direta em uma folha de papel ou no seu próprio celular/computador. Embaixo de cada frase, anote possíveis soluções ou maneiras de evitar que aquele medo se torne realidade.

Se você tiver medo de ser assaltada, por exemplo, pode pensar em formas de remediar isso, pesquisando sobre o destino e em como é a segurança pública, se turistas costumam passar por isso e em quais lugares seriam mais tranquilos para evitar. Ainda assim, tenha consciência de que mesmo se preservado, isso pode acontecer. Dessa forma, pense também em como remediar os danos caso aconteça. Levar uma cópia impressa dos seus documentos, deixá-los na nuvem e também separar seus cartões e dinheiro em lugares diferentes e seguros pode ser uma opção. Anotar telefones importantes também.

Enfim, o processo de autoconhecimento começa bem antes da viagem!

Se o medo for grande demais, comece por viagens mais curtas e próximas de casa.

Lidando com amigos, familiares e parcerias amorosas

Principalmente para quem vem de um contexto onde não é tão comum pessoas viajarem sozinhas – mulheres, mais especificamente – pode ser difícil explicar para amigos, familiares e possíveis parcerias amorosas essa vontade de viajar só.

Preocupações, ciúmes e inseguranças podem surgir e, além de colocá-los em sofrimento e deixá-la culpada, esses sentimentos podem ser depositados em você, mesmo que não seja a vontade deles. Por isso, é importante que você já tenha pensado bastante no assunto e trabalhado na sua autoconfiança, como falamos no item anterior.

Quando as dúvidas e questionamentos surgirem, mantenha a calma e respire fundo. Converse sobre seus desejos, conte sobre seus medos e a forma como você conseguiu se tranquilizar. Deixe claro que é valoroso para você e que isso não tem relação com eles, nem busca afetá-los.

Acima de tudo, abra seu coração e ouça os anseios de quem você ama, mas não deixe que eles abalem sua confiança.

Se precisar, entre em contato com outras viajantes e pergunte sobre esse processo para elas. Além disso, algo que me ajudou muito (e ajuda até hoje) é fazer acompanhamento psicológico para conseguir lidar com o que está fora das minhas mãos. As expectativas e frustrações dos outros sobre mim, por exemplo, e suas inseguranças.

Quem te ama e deseja o seu bem de forma sincera, vai entender, mesmo que não no momento e da forma como você gostaria. Pode confiar. 🙂

viajar sozinha

Planejando uma viagem sozinha – e viajando!

Não vou entrar nos detalhes de planejamento de uma viagem, porque temos um artigo extremamente completo aqui no blog sobre isso, e você pode acessá-lo clicando no link. Acredito que mesmo sendo para o público geral, não somente para mulheres viajando sozinhas, ele é rico na quantidade e profundidade de informações a ponto de satisfazer suas necessidades para começar essa aventura.

Aqui estão outras indicações que podem te ajudar durante o processo:

Durante o planejamento, faça questão de pesquisar muito profundamente sobre o destino, como as mulheres são tratadas e vistas e a experiência de outras viajantes. Leia relatos, avaliações de acomodações, restaurantes e atrações, converse com outras mulheres.

A maioria das viajantes solo que eu acompanho adoram compartilhar informações e ajudar outras manas a realizarem seus sonhos. Só nós sabemos os desafios que enfrentamos todos os dias e é importante que ajudemos umas às outras.

Durante a viagem

Quando estiver viajando, mantenha em mente isso de conversar e não tenha medo de perguntar! Se estiver em dúvida, não souber para onde ir ou tiver quaisquer dificuldades, abra mão do controle e deixe que alguém a ajude. Não dá para confiar em todo mundo, é claro, mas existe muita gente boa no mundo que vai adorar facilitar sua vida.

Quando for fazer isso, ou mexer no celular para ver uma informação, falar com alguém, olhar o mapa, entre em um estabelecimento. Não compensa dar mole na rua e muitos lugares turísticos tem golpistas em lugares públicos esperando o primeiro turista que der oportunidade.

Também dê preferência para lugares em que você possa cozinhar sua própria comida, não aceite nada de estranhos que não tenha visto a procedência e, acima de tudo, FAÇA UM SEGURO VIAGEM.

Mesmo para viagens nacionais, eles são uma mão na roda para quaisquer imprevistos que você possa ter durante sua viagem. Eu recomendo muito e nós também temos um artigo completo sobre o tema aqui no blog. Ele foca na Europa, mas contém informações valiosas para todos os lugares.

Além disso, uma dica importante é saber pelo menos o básico da comunicação e cultura do local onde se está visitando. Mesmo que você não saiba o idioma, estude algumas frases e tenha uma segunda língua ou um dicionário baixado no seu celular. A ideia é que você se sinta o mais independente e preparada possível. Publiquei um artigo para quem busca viajar para fora do Brasil sem saber outro idioma e acredito que pode ser útil.

A seguir, deixei uma lista de roteiros de outras mulheres que viajaram sozinhas e também páginas e outros blogs que podem te ajudar nesse processo.

Artigos e roteiros de outras mulheres que viajaram sozinhas no blog

Assim como foi o meu caso, acredito que seja muito importante ter referências de outras mulheres e como foram suas experiências para te ajudar nesse processo. Conhecendo as cidades em que cada uma passou, como elas se sentiram e foram tratadas, seus desafios e sentimentos, é bem mais fácil adquirir a confiança para escolher um destino e ir!

Por isso, reuni 6 artigos de mulheres que tiveram seus roteiros personalizados montados pelo Viajando Bem e contam detalhes sobre suas viagens. Se liga!

Exemplos de outras mulheres que viajam sozinhas

Na internet de hoje, o que não faltam são mulheres que viajam sozinhas e compartilham suas experiências para incentivar outras como nós. Aqui estão alguns exemplos para te inspirar e mostrar que o sonho pode estar cada vez mais próximo de se tornar realidade.

luísa ferreira viajando sozinha
Luísa Ferreira

Luísa Ferreira, Janelas Abertas

Autora do livro “Guia de Viagens para dentro e para fora”, Luísa foi quem me deu mais ferramentas para começar minha jornada. Ela compartilha suas viagens e conhecimentos de turismo no blog Janelas Abertas desde 2012, e fala sobre a magia de viver viajando, mas ainda priorizar a estabilidade e o conforto de ter um lar e um lugar para voltar.

Lanna Sanches

Lanna Sanches, Elas Viajam Sozinhas

Jornalista política e nômade há mais de 7 anos, Lanna não se contentou em utilizar a própria voz para inspirar outras mulheres: ela criou uma página inteira voltada para isso. No site do Elas Viajam Sozinhas, você encontra relatos e dicas de inúmeras mulheres de diferentes idades, raças, classes sociais e estados civis.

Aline Miranda

Aline Miranda, Umasulamericana

Viajante apaixonada pela América Latina, Aline é uma verdadeira inspiração quando se fala em desconstrução, liberdade e quebra de padrões. Em seus vídeos nas redes sociais, ela questiona nossa relação com nossas raízes e origem, fortalecendo um processo de descolonização.

E aí, pronta para viajar sozinha?

Espero que esse artigo seja uma porta para que você realize suas próximas viagens sozinha com segurança e tranquilidade. Se precisar de ajuda, preencha o briefing para que o consultor Rogério Milani faça uma análise gratuita da sua viagem.

Além disso, os comentários são abertos para dúvidas, indicações, partilha de informações e o que mais você sentir necessidade. Não deixe de compartilhar o que estiver passando por aí. 🙂

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