Estive em Garibaldi para cobrir a sexta edição do Garibaldi Vintage e aproveitei para fazer independentemente um roteiro histórico em Garibaldi, vem saber como foi!
Roteiro histórico em Garibaldi: o passado em casas
Garibaldi é uma cidade rica em cultura e história e sua antiga arquitetura remonta à época da colonização. Algumas construções em tijolo à vista são obras dos antepassados imigrantes do início do século XX. Primeiramente, Garibaldi foi colonizada por imigrantes italianos; porém, também teve forte influência da cultura francesa, transmitida pelas congregações religiosas também de origem francesa. Além disso, Garibaldi também recebeu algumas famílias sírio-libanesas, que desenvolveram ainda mais o comércio da cidade.
A Buarque de Macedo, recentemente revitalizada, é o principal palco dessa diversidade, e foi por ela que comecei minha caminhada para desbravar o casario antigo da cidade, acompanhada pelos blogueiros que estavam cobrindo o Garibaldi Vintage. Antigamente, a Buarque era uma estrada que, desde 1880, ligava os municípios da região, como resultado, a cidade foi crescendo ao redor dela. Até hoje, o centro histórico é muito bem preservado, com seus 35 casarões do início do século passado. Além disso, algumas outras atrações do roteiro histórico “Passadas” ficam mais afastadas, como o Cemitério Municipal e o Convento São José.
Se você quiser fazer o passeio de Tim-Tim pelo roteiro “Passadas” e também para conhecer mais Garibaldi, ele sai todos os sábados às 11h na frente do Centro de Atendimento (CAT), na Avenida Independência (ao lado da Cooperativa Garibaldi). A saber, o Tim-Tim é um caminhão de guerra modelo GMC de 1944, adaptado para o transporte de turistas, com capacidade de 50 lugares.
Bora lá ver algumas construções por onde passamos? Garanto que você vai se encantar com tanta história!
União de Moços Católicos – 1936
Fundada sob o lema “Deus e Pátria” (uma motivação bem típica da época), é a mais antiga sociedade organizada em Garibaldi de que se tem notícia. O objetivo da associação era reunir os jovens católicos e propagar a religião, além de defender os ideais da Igreja Católica. Atualmente, a imensa maioria da população da cidade é descendente de italianos, o povo mais católico de todo o mundo. Eles lotavam a União de Moços Católicos em seus eventos recreativos e esportivos.
Casa Antônio Koff – 1923
Nem só de imigrantes italianos foi feita Garibaldi – os irmãos Antônio e André Pedro, juntamente do amigo Moisés Mereb, foram para Garibaldi diretamente da Síria em busca de uma vida melhor e mais próspera no início do século XX. Os três amigos comercializavam tecidos e confecções por toda a região, até atingirem a quantia necessária de dinheiro para estabelecerem seu comércio no centro da cidade. Assim também , uma destas belíssimas construções é a Casa Antônio Koff, cheia de ricos detalhes e absolutamente bem conservada.
Casa de Pasto – 1897
Primeiramente, quando construído, era um hotel para os tropeiros e mascates que passavam pela região de Garibaldi – e eles eram muitos no auge da Estrada Buarque de Macedo. Depois disso, foi o lugar onde aconteciam grandes festas e banquetes da cidade. Seu pátio tem uma fonte de água, onde ficavam “estacionados” os cavalos dos hóspedes. A família Zorzi, proprietária do imóvel, mais tarde abriu um armazém de secos e molhados ali e também oferecia mesa de bilhar para os frequentadores.
Casa Vicente Branchi – 1920
Inicialmente a construção foi erguida por Vicente Branchi no início da década de 20 para ser residência de sua família. Devido à sua localização privilegiada, logo após, ela passou a ser um comércio e também uma agência do Banco da Província e Cartório de Notas e Registros de Garibaldi. Hoje, abriga uma charmosa loja de bijus onde sempre dou uma passadinha quando estou em Garibaldi. 🙂
Mansão Mazzini – 1921 (e a Casa de Veraneio Mazzini, que fica ao lado, de 1921)
Embora não tenha consultado o Rogério, inegavelmente essa mansão belíssima (e abandonada) deve ter gerado algum fascínio nas crianças que moravam lá. Olhar pra bela construção é lembrar imediatamente do Renascentismo Italiano, uma das inspirações do seu construtor e proprietário, Agostinho Mazzini. Bem no alto da fachada, o brasão da família decora a casa. Ficamos todos imaginando o motivo de uma construção tão linda estar abandonada – depois de uma pesquisada, descobri que a última herdeira, Adelina, deixou em testamento seu desejo de manter a casa por, pelo menos, seis gerações da família ou, ao menos, transformá-la num museu. Ao seu lado, numa construção de madeira de 1921, a família construiu uma casa em madeira que da mesma forma chama a atenção e virou parte do patrimônio da cidade.
Prefeitura Municipal – 1903
Foi construída e idealizada para substituir o antigo prédio onde funcionava o Paço Municipal, que já não dava conta da Prefeitura da progressista Garibaldi do início do século XX. Os engenheiros que tocaram a obra foram Heitor e Agostinho Mazzini (o proprietário da Mansão Mazzini) e a obra tem estilo eclético e com vários elementos ornamentais. Eu achei aqueles detalhes da janela lindos! 🙂
Capela dos Capuchinhos – 1931
O engenheiro Agostinho Mazzini projetou a capela por encomenda dos Freis Capuchinhos, que chegaram em Garibaldi em 18 de janeiro de 1896, vindos da França para acompanhar espiritualmente os imigrantes italianos em busca de uma vida melhor. Inspirada em um templo francês, a capela foi o local onde os freis fundaram a primeira Província Capuchinha do Rio Grande do Sul. O espaço onde antigamente funcionava o Convento dos Capuchinhos, atualmente abriga uma pousada que só serve refeições orgânicas aos seus hóspedes, que tem muito contato com a natureza no enorme terreno doado aos freis.
Casa Californiana – Década de 50
O estilo californiano de construção está bem presente nessa casa que mais parece moradia de bonecas de tão bonitinha e bem conservada. São características desta época a varanda em arco com prolongamento inclinado da parede e também a utilização de pedras rústicas como ornamentos decorativos. Além disso, na década de 50, esse estilo de construção começou a se popularizar bastante no Brasil e é, provavelmente, o único estilo pan-americano de arquitetura. Sua utilização tinha inicialmente um significado de autoafirmação nacional, em contraste a arquiteturas de simples ‘cópias’ europeias.
Casa Paulo Chesini – 1924/27
Construída inicialmente para uso residencial, começou a ser erguida em 1924 bem no Centro de Garibaldi. Com o passar do tempo, o proprietário Paulo Chesini instalou serviços de bar e restaurante e, para o lazer, uma cancha de bocha em um barracão de madeira construído junto à casa. Hoje, a casa abriga comércios diversos pela sua localização privilegiada e é chamada também de “Galeria Central” – ainda sim, fico imaginando como uma só família conseguia morar numa casa tão enorme!
Casa Luigi Toniazzi – 1893
O antigo alfaiate de Garibaldi, Luigi Toniazzi, idealizou esta casa tipicamente italiana. A ideia era erguer uma construção que fosse uma verdadeira cópia ampliada do prédio da família que ficava em Maróstica, Itália. No térreo da enorme casa ficava a alfaiataria, no primeiro andar a residência e no terceiro, um alojamento para aprendizes de alfaiate. O prédio sediou também a agência do Banco Pelotense e, hoje, abriga comércio.
Casa Mottin – 1921
Sabe aquele armazém do começo do século XX que vendia absolutamente de tudo, funcionando como verdadeiro centro nervoso da cidade? Esse era o “Baratilho de Lourenço Mottin”, que funcionava nesse prédio imenso de esquina e comercializava desde legumes e hortaliças até louças e produtos importados. Conta-se que Lourenço era um comerciante bastante experiente, além disso, sabia negociar preços, desse modo, sabia comprar pra vender mais barato. O “Baratilho” fechou em 1970 e, ao lado da parte principal do prédio, funcionava uma sala dos Correios. Também ao lado da construção, havia uma bica d’água que abastecia parte do Centro de Garibaldi.
Casa Koff Nehme – 1923
Essa casa fica no coração do Centro Histórico de Garibaldi e sempre chamou minha atenção pelos ornamentos delicados e fachada marcante. O engenheiro Valentim Maffaziolli projetou a construção a pedido do primeiro proprietário, André Pedro Koff. Em 1955, João Nehme, também comerciante, eventualmente adquiriu o enorme prédio. O detalhe ornamental faz alusão a Mercúrio, Deus do Comércio na mitologia romana e, na fachada, pode-se também ver as iniciais do primeiro proprietário, “APK” – um costume das famílias mais ricas da época.
Museu e Arquivo Histórico – 1884
O prédio original era em madeira e, claro, abriga hoje um museu e o Arquivo Histórico de Garibaldi, uma iniciativa louvável da Prefeitura para uma construção tão antiga e característica dos antigos prédios públicos. A princípio, antes de 1884, a casa de madeira abrigava a antiga “Soccietá Italiana de Mútuo Soccorso Stella D’Italia”.
Casa das Gaiutas – 1897
A Casa das Gaiutas é uma das mais antigas da cidade e é uma edificação térrea e geminada. A Casa apresenta pestanas e friso de volutas unindo as vergas das aberturas. Além disso, tem como particularidade as gaiutas, também conhecidas como mansardas ou águas-furtadas que são pequenas construções de madeira para iluminar e ventilar o sótão. Hoje, abriga o departamento de trânsito estadual – nós até brincamos dizendo que é, com certeza, o DETRAN mais bonito de todo o Rio Grande do Sul! 🙂
Pharmacia Providencia – 1900
Este prédio fica bem no centro da cidade e, inicialmente, funcionava como residência da família de Arduíno D’Arrigo na parte de cima e, embaixo, toda a população de Garibaldi e das cidades vizinhas encontrava seus medicamentos. Aliás, devido à localização privilegiada da edificação, sua sacada foi palco de discurso de políticos importantes como Getúlio Vargas e Borges de Medeiros. Hoje, a parte de baixo abriga uma loja de decoração super charmosa, por isso, nunca resisto e acabo entrando! 🙂
Igreja Matriz – 1924
A construção da Igreja Matriz foi uma iniciativa do Frei Bruno de Guillonay. Inspirado em projeto encomendado na França, o engenheiro Agostinho Mazzini foi o responsável pela execução. Juntamente da arquitetura com linhas góticas, destacam-se os vitrais coloridos, as pinturas murais, o altar artístico, a estatuária e seu imponente órgão de tubos. A Matriz é o mais importante símbolo de religiosidade de Garibaldi e, sem dúvidas chama a atenção dos transeuntes pela imponência até hoje.
Casa Fortunato Chesini – 1921
A Cooperativa Vinícola Garibaldi foi fundada nesta casa, onde começou a elaboração e o engarrafamento de vinhos. A construção conserva ainda o porão usado para a atividade da produção de vinhos e o mais bacana é que recebe milhares de turistas todos os anos, justamente pela atividade intensa da vinícola – ou seja: está em pleno aproveitamento da população e à todo vapor! 🙂
O roteiro “Passadas – A Arquitetura do Olhar” inclui várias outras construções para conferir, no entanto, como nosso tempo estava curto antes do Garibaldi Vintage, conseguimos explorar apenas algumas durante a caminhada pela cidade. Mesmo assim deixou aquele “gostinho de quero mais” e, sem dúvidas, quero concluir o roteiro!
Se você quiser conferir o trajeto completo, dê uma espiada no site da Secretaria de Turismo de Garibaldi ou salve o mapa abaixo:
Se você estiver em Garibaldi, pode curtir alguns passeios na Estrada do Sabor (já fizemos post sobre a Osteria Della Colombina e a Casa Vaccaro); ou ainda pode ir até Bento Gonçalves passear nos Caminhos de Pedra e também dar uma esticada até o interior de Caxias do Sul na Hospedaria Rio do Vento e na Barlavento. Confira as delícias da culinária moderna “escondidas” no Champenoise Bistrô, que fica em Pinto Bandeira e também sugerimos dar uma passeada pelo Vale dos Vinhedos, conhecendo a Vinícola Dom Laurino e o Wine Garden Miolo.
Aqui no blog nós amamos a Serra e a nossa dica de hospedagem por lá é o ótimo Hotel Casacurta, que tem 20% de desconto para nossos leitores e proporciona uma baita experiência de conforto e tradição!
Fotos e histórico de primeira. Prédios lindos e bem conservados. Parabéns pelo trabalho. Ajuda a despertar em nós o interesse pelos valores locais, que vemos desde a infância como coisas banais. Obrigado!
Oi Valdir, tudo bem?!
Para nós, eu como garibaldense e a Manu como alguém que curte demais Garibaldi, é sempre um prazer muito grande falar e escrever sobre esta linda cidade! Muito obrigado pelos elogios!
Abração!