Recebemos o livro “Os Alemães”, da editora Contexto, e mergulhamos na rica cultura deste povo que fascina e encanta com sua cultura!

Os Alemães

Nesta segunda resenha à convite da Editora Contexto, recebemos mais um volume da coleção Povos & Civilizações. No primeiro volume que recebemos, conheci um pouco da história e costumes do povo colombiano, tão pouco conhecido dos brasileiros apesar da óbvia proximidade geográfica. Adorei a leitura fácil mas, ao mesmo tempo, rica do primeiro volume (se não me falha a memória, devorei o livro em dois dias).

Este segundo volume é mais extenso (são mais de 300 páginas) e mais denso também (o autor, Vinícius Liebel, é um historiador que tem doutorado em Ciência Política pela Universidade de Berlim e é um grande especialista em cultura e política alemã). Mas, mais uma vez, a estrutura da obra ajuda muito, subdividindo os temas em capítulos principais e claramente a função aqui é a mesma do primeiro livro que li da coleção: quebrar os estereótipos e conhecer o povo retratado mais à fundo.

No caso dos alemães, o autor traça um perfil exemplar dos contextos históricos e políticos que levam os alemães a serem conhecidos como um povo pontual, que planeja minimamente suas ações, são rígidos e sisudos mas adoram uma boa comida (e uma boa cerveja, claro). No breve capítulo sobre as origens bárbaras da Alemanha, Vinicius discorre cuidadosamente sobre Thor e outros deuses que foram fundamentais para a formação identitária deste povo com uma história tão fragmentada.

Para quem gosta de viajar, o livro faz um panorama bem completo de algumas cidades que são destinos turísticos adorados pelos brasileiros como Berlim, Munique, Dresden e Colônia – falando também sobre os movimentos artísticos e libertários que tomam conta da Berlim moderna e também da belíssima arquitetura histórica que pode ser encontrada em todo o país. Um dos capítulos mais interessantes do livro, aliás, fala sobre a Kultur da Alemanha (“Kultur” é tudo o que tem a ver com formação moral, intelectual e cultural da nação) – notadamente, a “alma”, o âmago, a essência deste povo tão interessante. E a lista de realizações alemãs no campo intelectual é tão vasta quanto profunda – desde os filósofos Nietzsche, Schopenhauer, Kant e Hegel, passando pelos compositores Bach, Beethoven, Mendelssohn, Mozart, Brahms e Schubert, tudo remete à uma cultura erudita e complexa, que forma as bases intelectuais sobre as quais os grandes pensadores da atualidade ainda montam suas teses. O autor também fala do cinema alemão, cheio de filmes peculiares e artísticos, e também da arquitetura e o design (sem deixar de abordar a importância da escola Bauhaus).

Outro assunto que vai encantar quem gosta de viagens é a gastronomia alemã, destrinchada em um capítulo inteiro dedicado a ela (muuuito além do “chucrute e salsicha” popularizado pelos imigrantes alemães) e também sobre a cerveja, a bebida mais consumida por lá e que notadamente é o símbolo do país. Para os alemães, ela não é só uma bebida – há toda uma rica cultura de degustação, fabricação, harmonia entre técnicas ancestrais e novidades e, claro, o ufanismo e o orgulho nacional de estar relacionado a algo que remete à alegria, união e amizade. Estima-se que há mais de 7.500 rótulos diferentes à disposição e a produção local dá a cada um deles as suas características. Claro que o autor destacou a Oktoberfest (que, só no ano passado recebeu seis milhões de turistas do mundo todo), uma das festas populares mais famosas de todo o mundo que tradicionalmente acontece em Munique.

Achei fundamental o fato do autor da obra ser historiador, afinal, é preciso ter muita propriedade ao falar de assuntos essenciais para se entender a Alemanha como as duas guerras mundiais, a República de Weimar, a Guerra Fria, as Alemanhas Oriental e Ocidental e a queda do Muro de Berlim e suas consequências que, culturalmente, são sentidas até hoje.

Claro que não poderiam faltar no livro dois excelentes capítulos sobre o nazismo – o primeiro se debruça sobre as origens do Terceiro Reich e contextualiza a escalada de Hitler até o poder e a importância da propaganda política neste processo (de forma bastante assustadora, devo dizer, especialmente nos tempos atuais de retomada destes pensamentos de extremismos no mundo todo). O segundo capítulo fala sobre o Holocausto em si, com a dizimação dos judeus, homossexuais, testemunhas de Jeová e negros (os povos perseguidos por Hitler) e também sobre os campos de trabalhos forçados e extermínio. O autor dá ênfase a aspectos que criaram esta base do antissemitismo nazista e também como isso refletiu na vida e no dia a dia do povo germânico como um todo. Os horrores cometidos em nome da “pureza da raça” ainda são uma ferida aberta para o povo alemão e são tema de muitos documentários, exposições e projetos específicos em todo o país.

Ao finalizar o livro, Vinícius fala da Alemanha atual e suas preocupações ambientais, vanguardas artísticas, inquietações e movimentos sociais que ganham força, como o feminismo alemão, e ainda consegue fazer uma relação entre a Alemanha e o Brasil ao falar do futebol e da imigração e da relação entre os dois países, hoje fortalecida.

Serviço
Os Alemães
Autor: Vinícius Liebel
320 páginas
Ano de lançamento: 2018
Editora Contexto
Mais informações e outras resenhas aqui.

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