Fiz uma rota de turismo religioso no interior do RS em Nova Prata, cidade onde nasci e cresci – se você se interessa por história e gosta de passear pelo interior, esse post é pra você!

Turismo religioso no interior do RS – conheça a rota religiosa de Nova Prata

Nova Prata é uma pequena cidade que fica a pouco mais de 250 kilômetros de Porto Alegre. Faz parte da Serra Gaúcha, mas uma parte menos explorada pelo turismo por não ter se desenvolvido tanto no que diz respeito à turismo e vinícolas. Nasci lá e, desde pequena, saía com meu pai e seu indefectível Jipe 1954 para explorar as estradas de chão batido do interior da cidade. Há muitas igrejinhas históricas de madeira distribuídas por ali – a maioria delas foi erguida pelas famílias de imigrantes italianos que chegaram à antiga Alfredo Chaves (hoje Veranópolis) e, depois, Capoeiras (como se chamava Nova Prata antigamente).

Os imigrantes vinham de diferentes regiões da Itália, Alemanha e Polônia e se abrigavam nas chamadas “linhas” (pequenas comunidades) – com a escassez do transporte, eles se reuniam em comunidade e celebravam sua fé por ali mesmo. Há pouco menos de um ano, a Prefeitura Municipal da cidade lançou o Roteiro Religioso que mapeia estas capelinhas e igrejas históricas e eu quis conferir uma a uma num passeio que durou dois dias – feito com meu pai, é claro! Para quem quiser fazer o mesmo, indicamos alugar carro pela Rentcars e Rental Cars, duas empresas super confiáveis e com boas taxas.

Se quiser ficar um final de semana por lá, recomendo o Prata Villaggio Hotel, que é bastante confortável e tem um excelente café da manhã, e também a Pousada dos Pinheirais, que é bem central e tem um restaurante fabuloso (indico muito jantar por lá também!). Outra ótima opção de hospedagem é a recém-reformada Pousada dos Capuchinhos (que fica em Vila Flores, a cerca de dez quilômetros de Nova Prata), uma outra experiência de turismo na região que vale muuuuito a pena!

Confere o mapinha da rota religiosa de Nova Prata e suas Igrejas e Capitéis – ele está disponível na Praça da Bandeira, no guichê de Informações Turísticas da cidade:

Nem todas essas capelas e capitéis estão intactos até hoje, mas quatorze delas podem ser visitadas por quem deseja conhecer um pouco da história e o legado dos imigrantes através da fé materializada. E não são todas de madeira: algumas das capelas foram reformadas em alvenaria, mas claro que o que encanta mesmo são as igrejas de pedra e de madeira, cheias de detalhes interessantíssimos. Sobre sua localização no mapa, já digo que é difícil chegar lá usando GPS porque essas regiões do interior não costumam ter sinal de internet – mas nada que a boa hospitalidade do povo não ajude. Afinal, TODO mundo sabe onde ficam estes capitéis, eles são o “coração” da colônia, que ainda se reúne nos salões paroquiais anexos à elas em dia de festas e celebrações.

Bora conferir como foi minha rota por esses lugares?

São Estanislau

1 – Igreja da Matriz

Comecei pela Igreja Matriz da cidade, que é uma mistura de estilos gótico e romano e foi construída em 1943. Dentro dela, o estilo é notadamente parecido com o das outras igrejas erguidas por imigrantes italianos e há vitrais lindos em todos os quadrantes. Eu sou bem suspeita pra falar dela porque meus pais se conheceram ali, na saída da missa, no distante ano de 1969 e começaram a namorar logo depois…

O arquiteto responsável pela obra foi Criciano Betamin, de Caxias do Sul. Para a sua construção, os colonos do município ajudaram efetivamente pagando o dízimo e também com vários tipos de doações e com muitos dias gratuitos de serviço. Sempre achei a Igreja linda! Seu altar é todo de mármore e os confessionários são belíssimos e históricos também. Anualmente, ali acontece em junho a festa do padroeiro da cidade, São João Batista e, em outubro, a romaria e procissão luminosa em honra à Nossa Senhora Aparecida.

2 – Igreja de São Peregrino

Única nesse estilo no Brasil, é uma construção contemporânea que é bastante recente e está nessa lista por representar uma das mais conhecidas atividades de Nova Prata: a extração de pedras. A Igreja foi edificada entre 1996 e 2007 e é toda construída em pedra basalto, em referência a Nova Prata ser a Capital Nacional do Basalto. Está localizada na Rua Brasil, S/N, no Bairro São Peregrino. A devoção a São Pelegrino foi uma das vivências trazidas pelos imigrantes italianos e segundo a crença é o protetor contra o câncer e outras doenças malignas. No interior da Igreja, há uma imagem de São Peregrino totalmente esculpida em pedra basalto.

3 – Igreja São Julião / Cruz de Ferro

Essa igreja histórica fica na comunidade de Gramado, onde morava parte da minha família paterna antigamente. Tenho uma baita ligação com lá porque cresci brincando nestes bosques e estradas de chão batido, e meus bisavós estão enterrados no pequeno cemitério que fica ao lado do Salão Paroquial. A igreja foi erguida em 13 de janeiro de 1957 e inaugurada no ano seguinte, em 18 de janeiro de 1958. O mais interessante, pra mim, é que o pessoal que mora nessa linha ainda se reúne muito no Salão Paroquial, onde há jogo de bocha, bingos e os populares churrascos.

4 – Igreja de Santo Estanislau / Cemitério Polonês

A histórica Capela Santo Estanislau fica na Linha General Osório – Estrada que vai para Vista Alegre do Prata, que era distrito de Nova Prata mas hoje em dia se emancipou. Construída por imigrantes poloneses em 1890, foi cuidadosamente restaurada em 2012, num processo que preservou sua história. Inicialmente, era chamada de Capela São José mas, como a maioria dos imigrantes daquele local era polonês, ela foi rebatizada para Capela São Estanislau, que foi o Bispo da Cracóvia. Apesar de ter sido restaurada, o trabalho foi cuidadoso e ela segue praticamente intocada – dizem que toda a madeira que compõe a capela foi rachada e aplainada à mão pelos colonos.

Dentro da capela, você encontra uma imagem histórica da padroeira da Polônia, Nossa Senhora Czestochowa. Todo o altar é em madeira e há um espaço para o coro dentro da pequena igreja, além de lambrequins do lado de fora e na torre da construção. Ao lado da capela, há um cemitério também histórico e um salão paroquial, que estava cheio no dia em que visitamos a capela – ou seja, os moradores desta colônia ainda usufruem muito do espaço!

Além deste cemitério maior, que fica ao lado da Igreja, a alguns quilômetros adiante fica o antigo cemitério polonês, que hoje está abandonado. No meio de uma estradinha de chão batido estreita, você não vê identificação nenhuma para visitar o local, o que me deixou bem triste. Parando ali, você se depara com algumas árvores e um baita milharal que fica atrás de uma tapera de pedra. Ali estão cerca de dez cruzes antigas em ferro com nomes e sobrenomes impronunciáveis pra mim (são muitas consoantes!), de pessoas falecidas no começo do século passado. Achei super interessante porque eu nunca havia estado em um cemitério abandonado, a experiência é fascinante porque fica do meio do nada com lugar nenhum… Pena que só um local sabe te explicar como chegar lá e que o interior de Nova Prata não tem Google Maps…

5 – Igreja Luterana

A presença da Igreja Luterana em Nova Prata está intimamente relacionada à existência de imigrantes alemães e seus descendentes. A construção em madeira instalada na Linha Quinta representa, junto com o Cemitério Luterano, uma das mais singelas marcas da presença da etnia alemã e o registro de sua religiosidade destas pessoas que ajudaram a construir Nova Prata. Apesar da maioria de imigrantes italianos, poucos sabem que também houve um desenvolvimento muito forte da comunidade alemã durante as duas últimas décadas do Século XIX. Prova disso é que, em 1902, houve 52 crianças batizadas na Igreja Luterana que havia sido erguida na comunidade. A partir daí, a emigração para outras regiões em razão de considerarem a terra improdutiva e também pela chegada dos italianos pôs em declínio a presença de alemães na região.

Pelo processo histórico, dá para se inferir que a Igreja em madeira pode ser a construção mais antiga do município e conserva em seu interior pouca decoração: um lampadário em ferro, bancos do tipo escolar, um crucifixo esculpido a partir de uma raiz e quadros da Santa Ceia e só. Exatamente como pede a fé luterana. A chave que abre a igreja é imensa, de ferro, e dizem que foi trazida da Alemanha. Ao lado, há um pequeno cemitério abandonado com seis lápides antigas.

6 – Igreja Três Mártires

Localizada há apenas três quilômetros do centro de Nova Prata, na Linha Bento Gonçalves, a capela foi inaugurada em 8 de novembro de 1942, tendo sido construída sobre uma parte do lote 25 de Augusto Han. Mesmo luterano, ele fez a doação das vigas que sustentam o campanário e auxiliou na colocação do sino, pois desejava que o sino badalasse no dia de sua morte, o que de fato aconteceu.

O prédio é todo em madeira e possui uma escadaria em pedra basalto e porta com esculturas em relevo. Dentro há o altar em honra aos Santos Três Mártires e, na parte externa, há o campanário bastante rudimentar.

7 – Capitel São Cristóvão

A capela foi construída em 1946 a partir da comoção dos moradores do bairro, que é cortado pela RST 324, com dois trágicos acidentes. Antigamente, ali ficava também a Estrada Buarque de Macedo, por onde passavam os tropeiros. Mas o capitel só foi construído a partir destes acidentes que aconteceram na década de 40 e sensibilizaram os caminhoneiros e moradores que decidiram recorrer à proteção do Santo dos Caminhoneiros. O “projeto” e a construção ficaram a cargo do pedreiro Hércules Romanzini. Sua inauguração ocorreu em 25 de Julho de 1946, com missa, festa e bênção aos motoristas.

8 – Capitel Santo Antônio

Capitel à beira do Rio da Prata, perto da ponte e do Complexo Hidrotermal Caldas de Prata, na Linha Sétima – ou seja, passagem de turistas. O primeiro Capitel de madeira foi construído em 1912 pela família de Caeteno Bolzan, próximo à Cascata no atalho que levava à Usina. Vi uma foto antiga e era muito bonito, no estilo de muitos que menciono neste post. Em 1988, a Prefeitura Municipal mandou fazer um novo na oficina do Sr. Sestilio Carnevalli, o qual continua a abrigar o Santo. O triste é ver que está completamente abandonado…

9 – Igreja São Miguel (Pinguela)

Essa, pra mim, é uma das mais lindas dessa lista. Fica em frente à uma enorme parede de pedra e perto de uma pinguela (um estilo antigo de ponte de madeira pela qual os mais corajosos atravessam o rio – eu nem pensei em fazer essa loucura, morro de medo)! A São Miguel é a típica capela dos primórdios da imigração italiana na Serra Gaúcha, está localizada na beira do Rio da Prata, na Linha Oitava, há aproximadamente oito quilômetros do Centro da Cidade.

Você teria coragem de atravessar a pinguela?

Inaugurada em 1930, foi construída toda em madeira e mantém sua originalidade arquitetônica, com exceção do telhado que foi modificado. É muito bem cuidada e, para entrar, você pode pedir na casa vizinha à construção – o senhor que cuida da capelinha é muito simpático e abre para os turistas sem qualquer tipo de reclamação.

10 – Capitel Nossa Senhora de Schoenstatt, Mãe Rainha Três Vezes Admirável

Esse é o contrário do Capitel Santo Antônio, que lamentei estar abandonado. Aqui, o esmero e o cuidado estão em todos os lugares. A moradora de Nova Prata Inês Cercina Stella organizou, junto com moradores da localidade, em função de promessas feitas e graças alcançadas, a construção do Capitel, que foi iniciada em 2000 e inaugurado em 2003, em terreno cedido pela Prefeitura Municipal. Uma curiosidade: o Umbu (Maria Mole) que sombreia o Capitel possui mais de 100 anos e, no muro de tapera que fica atrás da construção, você encontra diversas capelinhas de santos.

11 – Igreja Nossa Senhora de Caravaggio

Em 16 de Abril de 1950, foi benta e instalada uma pequena Capela dedicada à Nossa Senhora do Caravaggio, situada na Estrada Buarque de Macedo, no conhecido Povoado Colla. A pequena comunidade fica na ligação entre a sede do Município e o então Distrito de Rio Branco. Para a igreja, foi cedida uma antiga e belíssima imagem que havia sido trazida da Itália e estava na Igreja Matriz.

No dia 8 de março de 1953, foi benta a pedra fundamental e no dia 09 de Janeiro de 1955, foi solenemente benta e inaugurada a nova e belíssima Capela de Nossa Senhora de Caravagio. Ainda é muito importante para a comunidade e amplamente frequentada em dias de festa.

12 – Capitel Santo Antão (Rio Branco)

Outro capitel que fica no Povoado Colla, bem em frente ao antigo hotel que abrigava os tropeiros que iam em direção à Lagoa Vermelha pela Estrada Buarque de Macedo. O hotel era do meu avô paterno, Giordano Martini, e minha mãe e tias cresceram brincando por ali na década de 40 – mas não sei precisar quando o capitel foi construído porque não encontrei nada escrito sobre isso.

13 – Capela São Brás

Localizada na Linha Décima, a primeira Capela foi edificada nas terras pertencentes a Inocente De Conto, que ficavam no início da Comunidade de São Brás. Porém, como os colonos queriam centralizar a sua localização, transferiram-na para onde hoje está instalada. Isso aconteceu entre 1935 e 1940 e, hoje, a capela fica na beira da estrada (realmente um ponto central da pequena comunidade). Hoje, é sede dos espetáculos de música erudita do Sábados Musicais, promovido pela Secretaria de Turismo – o que me deixa imensamente feliz, porque essa é uma das capelas históricas mais lindas da cidade e merece ser visitada.

14 – Gruta Nossa Senhora de Lourdes

Junto ao Viveiro Florestal, encontra-se a Gruta Nossa Senhora de Lourdes, bem no Centro de Nova Prata. Para quem mora em Nova Prata, Nossa Senhora de Lourdes é sinônimo de muitas graças alcançadas – uma delas originou a doação do terreno onde hoje encontra-se a gruta. Na década de 30, o imigrante de descendência italiana Mário Coradin, aos 52 anos foi acometido de uma doença muito grave nos rins, necessitando procedimento cirúrgico para recuperação. Pela sua devoção, fez uma promessa que, se a cirurgia transcorresse da melhor maneira, doaria à Paróquia Municipal um terreno destinado à construção de uma gruta em homenagem à Nossa Senhora de Lourdes.

Outro motivo que levou o doador do terreno a tomar tal atitude baseu-se no fato que, durante a construção da estrada do Rio das Antas até a Estação Ferroviária Veríssimo de Matos, desempenhada de forma braçal, não ocorreu nenhum acidente fatal. Ele era o responsável direto da obra e comprometeu-se em agilizar a construção da gruta, manifestando desta forma seu total agradecimento. O local recebeu recentemente melhorias no acesso, na iluminação, na estética, no paisagismo e principalmente contribuiu para tornar o espaço mais aconchegante e propício para orações, momentos de sossego e lazer.

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