Região da Boêmia: conheça a tradição cervejeira da República Tcheca

por | Atualizado em 15/08/23 | Cultura, Dicas de Viagem, Praga, Tour Personalizado

Conheça a tradição cervejeira na região da Boêmia, na República Tcheca, neste post escrito pela Martina, a guia de turismo que fala português em Praga!

região da Boêmia

A tradição cervejeira da região da Boêmia

Todo mundo sabe que a cerveja é uma bebida extremamente popular na República Tcheca hoje em dia, mas poucos sabem onde começou essa tradição. Diz-se por aqui que, provavelmente, a primeira cerveja em Praga foi produzida no final do século X, no convento de São Jorge no Castelo.

O costume da época era que todo convento e mosteiro tivesse a sua própria padaria e cervejaria. Além disso, a produção de cerveja na época era um trabalho exclusivamente feminino!

A primeira cervejaria com existência confirmada ficava no Monastério de Břevnov, fundado em 993 como o mosteiro masculino mais antigo da região da Boêmia pelo bispo Adalberto. Você sabia? O consumo de cerveja era tão alto na época, que o mesmo bispo teria pedido ao papa a proibição de produção e consumo de cerveja em toda a Boêmia.

Esse pedido de “lei seca” não comprovação histórica mas, se existiu, foi a primeira e última tentativa de algo assim na região que ama esta bebida!

Rapidamente, a cerveja caiu no gosto da população da região da Boêmia e, no final do século XII , era chamada de “bebida de jejum”. Inicialmente, era produzida nos mosteiros mas, logo, os nobres e burgueses começaram a produção também.

Já se sabe sobre o cultivo de lúpulo ao menos desde 1052, a data de um documento que obrigava ao pagamento do dízimo para a Igreja sobre da produção dessa planta.

região da Boêmia

Quem poderia produzir cerveja?

Com o crescimento de cidades já existentes e fundações de novas, surgiram os importantes “privilégios” ligados a produção de cerveja. O “privilégio de produção de cerveja”, para os burgueses das cidades reais (valia para donos de casas dentro da muralha da cidade, porém, não aqueles com trabalhos considerados “inferiores”), e o “privilégio de uma milha”, que determinava que, nesse raio de cerca de um quilômetro, não podia ser preparado malte nem produzida ou vendida nenhuma outra cerveja.

Esse monopólio cervejeiro valeu até início do século XVI e, até lá, se cumpria – mesmo que à força.

As primeiras cidades que obtiveram esse privilégio da cerveja foram Svitavy (1256), Žatec, České Budějovice, Plzeň (Pilsen, 1295) e, em 1305, também Praga. Nesta última fundou-se a primeira cervejaria (fábrica e taverna) pelos agostinianos, próximo a igreja de São Tomás. As más línguas dizem que Venceslau IV mandava levar a Praga cerveja de Žitava e Svidník, mas eram exceções e ele era o rei, afinal! 😉

região da Boêmia

Uma mudança na produção

No início do século XVI houve um desentendimento entre a nobreza e a burguesia na região e, como resultado, os nobres começaram a construir cervejarias nas suas cidades vassalas e foram proibidos por burgueses comprar casas nas cidades reais. Essa disputa se encerrou em 1517 com um acordo: a nobreza poderia oficialmente fazer cerveja, mas não vendê-la em outras cidades, e os vassalos teriam que beber a cerveja do “seu” nobre. É claro que esse direito era de poucos: nobres, burgueses e religiosos.

O imperador Josef II aboliu o privilégio da milha em 1788, liberando, assim, a importação de cerveja de fora das cidades. Porém, na segunda metade do século XVIII, isso já era habitualmente descumprido pelas pessoas.

Ainda no início do século XIX, a maioria das cervejas era de alta fermentação, mas as cervejas de baixa (fermentando a temperatura de 5-6°C) já aconteciam, sobretudo no inverno, por questões práticas. A pioneira nesta técnica foi a cervejaria Samec de Žatec já no século XV.

A moda desse tipo de cerveja cresceu na Boêmia a partir de 1840, quando o mestre cervejeiro, Vojtěch Wanka, da cervejaria U Primasů (na atual Praça Venceslau), iniciou a produção exclusiva por causa da grande vantagem dessa cerveja. Qual era ela? Tinha maior durabilidade que as outras!

região da Boêmia
Sede da U Primasů

Outros fatores importantes também influenciaram o desenvolvimento do ramo cervejeiro e produção em maior escala. Em 1781 aboliu-se a corveia, um tipo de trabalho obrigatória que vinculava estreitamente o vassalo ao nobre. E, quase um século depois, em 1869, a abolição da lei que limitava a produção de cerveja somente a três classes (clero, nobreza e burguesia).

Imagine o que isso representou para a produção cervejeira caseira, que deu um boom nessa época!

O nascimento da Pilsen

A qualidade das cervejas produzidas pelos burgueses da cidade de Pilsen era muito variável. Isso acontecia principalmente nos meses de alto verão, quando a fermentação alta se tornava quase incontrolável. Isso tirava toda a possiblidade das cervejas produzidas em Pilsen serem competitivas. Muitas cidades já estavam usando a baixa fermentação, como a vizinha Bavária, onde os mestres cervejeiros utilizavam caves e gelo das montanhas.

Assim, em 1838, ocorreu um espetáculo incomum: em frente à Prefeitura, na praça principal de Pilsen, os burgueses derramaram 36 barris da cerveja de má qualidade… Um ano depois, eles começaram a construir uma grande fábrica de cerveja onde, em 5 de outubro de 1842, Josef Groll, um mestre cervejeiro vindo da Bavária, produziu a primeira cerveja que foi, mais tarde, chamada simplesmente de ”pilsen”.

Apesar de ter usado o mesmo processo já conhecido na Bavária, a cerveja “saiu” diferente, mais saborosa, de cor dourada… E, em breve, conquistou o mundo! Ainda no mesmo ano chegou em Praga e, dez anos mais tarde, já estava em mais de trinta importantes estabelecimentos. Em 1856 chegou em Viena e, em 1862, conquistou Paris.

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Mas, com o sucesso, começaram a aparecer problemas com fraudes e cópias. Apesar de ter registrado sua invenção em 1859 com marca “cerveja de pilsen”, muita gente foi na carona desse sucesso. No final do século XIX, fez-se o registro da marca “Plzeňský Prazdroj – Pilsner Urquell”, evitando bastante essa onda de imitações e cópias da receita original.

Em 1873, Pilsner Urquell foi pela primeira vez para o Novo Mundo. A partir do ano seguinte, já ia regularmente para os Estados Unidos e, no final do século, também para vários países da América Latina, junto com África e Oriente Médio. No Brasil, ela virou paixão nacional – e convenhamos, é perfeita para o clima tropical!

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Que tal visitar a fábrica da Pilsen?

Hoje, a fábrica original da Pilsen tem um programa de visitação muito interessante em que os turistas podem conhecer desde a parte antiga da fábrica até a linha de engarrafamento super moderna. Claro que a visitação inclui a degustação de lotes especiais da Pilsner Urquell feitos do “jeito antigo”.

Ou seja, nos barris de madeira fabricados manualmente, fermentados nas caves subterrâneas. A apenas uma hora de Praga, esta é uma ótima opção de turismo para quem ama beber uma boa cerveja!

Para quem quer conhecer a fábrica e saborear de perto essa tradição, eu realizo diversos roteiros por pontos turísticos da capital da República Tcheca e bate-e-voltas na República Tcheca. O mais legal é que os roteiros acontecem do jeito que você quiser e de forma personalizada!

Para contratar meus serviços, que sou uma guia de turismo que falo português e já atendi inúmeros brasileiros em Praga, envie um contato pelo formulário deste post!

E boa viagem!

Franz Kafka em Praga

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